Filha,
Seu mundo era escuro, protegido e cheio de barulhos ainda confusos. Mas dentre todos, havia um que lhe era familiar. Um som que a trazia calma: a minha voz.
Cantando canções ou simplesmente conversando, minha voz foi a primeira que ela ouviu. Eu não podia ver seu rosto, mas sentia seu carinho. Coisa inexplicável é o amor de mãe. Mesmo antes de nascer, ela me amava. Sim, eu fui a primeira pessoa que a amou.
Nós estávamos ligadas de maneira muito especial. O meu mundo era ela. Mas ela teve que deixar este lugar, tão seguro e tão protegido. A princípio, seu novo mundo parecia frio e até um pouco hostil, mas então o meu som favorito soou bem perto do ouvido. Em meu colo, o frio foi embora e de alguma forma eu sabia que aquela seria a pessoa mais importante da minha vida. Dei um beijo nela. O primeiro beijo que ela recebeu na vida, foi meu. A primeira troca de fraldas, a primeira papinha. E quando o silêncio da noite era interrompido por seu choro faminto, eu era a primeira a se levantar. Bastava uma tosse e uma febre, mesmo baixa, era a primeira a se preocupar. Sentadas na mesa da cozinha, a boca suja e pedaços de comida no cabelo, ensinei a difícil tarefa de segurar uma colher: sou a primeira professora dela. Com o joelho ralado, correu para mim e com um beijo sara eu sarei a dor dela: ela foi a minha primeira paciente. Ela veste minhas roupas, calça meus sapatos e, na brincadeira do ‘faz-de-conta’ ela finge ser eu: minha filha é minha inspiração. Sou sua primeira amiga, minha primeira confidente. Ela segurou minhas mãos, deu seus primeiros passos descoordenados, e andou.
Malú, é difícil escrever pra você. Todas as aulas de redação que tive na vida são insuficientes pra dizer do meu amor. Cresça filha, muito e conte sempre comigo amor...
Filha, obrigada por me colocar nas mãos de Deus, todos os dias. Obrigada por ser tudo que você é pra mim. Se hoje eu sou essa pessoa feliz, tenha a certeza: devo tudo a você.
Você é o meu maior amor!
TE AMO,
Mamãe...
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